segunda-feira, 27 de agosto de 2018

#1 - Resposta à Carta Publicada pelo Clube Atlético Paranaense



            Aparentemente, o Clube Atlético Paranaense, em sua gestão 'CAP GIGANTE' está numa verdadeira jornada pela proteção e efetivação de um dos direitos mais fundamentais inerentes ao ser humano, o da sua dignidade.

            É realmente comovente ver o romance elaborado em busca de tapar o sol com a peneira. Que "o futebol não é uma guerra” é óbvio para qualquer vivente em sociedade, em que pese muitos desses insistam em protagonizar cenas lamentáveis de violência gratuita que nos fazem questionar sua capacidade cognitiva.

            Mais certo ainda é a necessidade de clubes, órgãos públicos e autoridades de segurança tomarem medidas a fim de devolver ao desporto a paz que lhe é devida para sua prática, bem como, para que os aficionados possam livremente acompanhar e se expressar em prol da agremiação com a qual mais simpatizam.

            De qualquer maneira, chega a ser vergonhosa a tamanha infantilidade expressa na Carta Aberta do Clube Atlético Paranaense, tendo em vista a tamanha demagogia que escorre em cada frase.

            “Estamos tentando reparar algo que faz parte do direito fundamental dos seres humanos” [...] "Estamos, sim, trazendo de volta o que é certo e correto" [...] “Aqueles que não puderem conviver pacificamente com o torcedor do outro clube ao seu lado, não pode(m) viver em uma sociedade” [...] “Nunca serão de torcida única, serão sempre jogos de uma torcida humana, pacífica e ordeira" [...] "Que a sociedade nos julgue”. (Grifo nosso).

            Por esta senda já é possível ter-se uma ideia do teor do restante da Carta.

            Diferentemente daquilo que acusa a atual gestão do CAP, nós, contrários à medida da torcida única, da maneira como está sendo adotada pelo Clube e pelo Ministério Público – frisa-se –, não "defendemos o errado ou o espaço confinado da torcida adversário(a)", nós defendemos o torcedor de bem, aquele, aliás, que tem mais direitos restringidos por conta dessa 'estratégia'. (Grifo nosso)

Ademais, como deixado claro em aludida carta, o que se visa é assegurar ao torcedor, sobretudo, sua dignidade enquanto ser-humano.

Ocorre que não podemos distorcer o verdadeiro sentido de um ser-humano “digno”. Nossa sociedade, em um sentido macro, buscou e ainda busca evolução dia após dia do verdadeiro significado da dignidade humana.

Como sugestão, utilizamo-nos da didática do ilustre Immanuel Kant, filósofo alemão que, em linhas gerais, atribui a dignidade como um elemento finalístico, isto é, um ser-humano digno, seria aquele capaz de realizar-se, de em pleno gozo da sua capacidade ter a decisão do seu destino.

Nesse sentido, segregar cânticos, cores e costumes adversários se mostra uma atitude digna por parte da “humana gestão” que gere o CAP?

            Veja bem, a visão de futuro que a Diretoria possui não é ruim. Ora, quem não gostaria de frequentar estádios para ver seu time, da mesma maneira com que muitos vão aos jogos das seleções na copa do mundo, ou de esportes americanos, isto é, com torcedores de ambas as equipes, lado a lado, torcendo e vibrando.

            O que se questiona é a forma como vem sendo feita.

            Percebe-se que a Diretoria, bem como, o Ministério Público do Estado do Paraná, não pretendem outra coisa senão lavarem as mãos acerca do problema da violência no futebol, uma vez que, impedindo as torcidas de frequentarem estádios rivais, apenas jogam as brigas generalizadas para longe dos holofotes, em terminais de ônibus, praças públicas, ruas e grandes avenidas.

            Ademais, a simples extinção do 'setor visitante’ não resulta em que haja no estádio torcedores apenas do time da casa, vide as recentes partidas contra Internacional e Flamengo, cujas torcidas compraram seus ingressos para acompanhar os jogos na Arena da Baixada, gerando enorme insegurança aos atleticanos que pretendiam fazer-se presentes.

            Não se pode olvidar de que em tempos atrás tínhamos cenários muito favoráveis ao futebol paranaense, com diversos Atletibas no Couto Pereira sem a divisão de torcidas, sendo que cada grupo organizado se posicionava em seus tradicionais extremos do estádio.

            Contudo, a realidade vivida atualmente é demasiadamente complexa. Anos se passaram. Brigas, ofensas, mortes. A simples retirada das divisões entre os torcedores adversários sem o mínimo de cuidado nessa transição de culturas de torcida que a Diretoria do Atlético nos impõe representa uma verdadeira irresponsabilidade, expondo diversos torcedores ao risco de deparar-se com um adversário na arquibancada que, por um motivo ou outro, crie uma desavença e inicie a confusão.

Aliás, já tivemos a lamentável experiência do que a ausência de segurança (e de divisão de torcidas de maneira satisfatória) pode acontecer. Infelizmente o último jogo de 2013 ficou marcado pela selvageria protagonizada entre criminosos que dizem representar a torcida do Atlético e do Vasco.

Infelizmente, não podemos presumir a boa-fé e estamos na iminência de mais uma partida entre as duas equipes. Será que um pai de família confia na decisão do clube e acreditará que não teremos problemas nesse jogo? Ou será que este mesmo pai se sente plenamente seguro na palavra do I. Promotor Maximiliano Deliberador (que data vênia, nunca deve ter pisado em um estádio de futebol)?

            Como seria perfeito o mundo em que a Diretoria do Atlético Paranaense desenhou em sua Carta. Onde todos fossem perfeitamente racionais a ponto de ignorar os mais intensos impulsos de emoções durante uma partida de futebol.

            A intenção é boa. A forma como está sendo feita, grotesca. A Carta, cujo conteúdo encontra-se abrilhantado por pequenos erros gramaticais, é ingênua e desprendida de qualquer vínculo com a realidade.

            Vamos todos juntos por amor ao Furacão! Ao Furacão!

2 comentários:

  1. Excelente texto! Infelizmente hoje quem frequenta o estádio está indo com insegurança, não sabemos se haverá uma briga ao nosso lado, se estamos "seguros". Vou para o estádio com meu marido e os meus dois filhos que são sócios e tenho muito medo por eles, todo jogo penso se devo ou não levar eles. A torcida única tirou a sensação de segurança que tinha em levar meus filhos. Hoje vejo foco de discussão em todo o estádio, coisa que não existia antes deste projeto. Espero sinceramente que isso seja repensado antes que essa discussão vire uma briga generalizada e que pessoas inocentes se machuquem.

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  2. ele querem que de brigas,asim tem argumentos para proibir de vez os vizitantes!

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